A repercussão do aumento do PIS/Cofins sobre os combustíveis vai ser ruim no Congresso, onde a rejeição à alta da carga tributária é muito grande. Se o aumento dependesse de medida legislativa, dificilmente teria aprovação integral. O fato de ter sido feito por decreto assegura a entrada imediata das novas alíquotas em vigor, mas não atenua o desgaste político.
O Congresso não tem sido parceiro do governo no esforço para aumentar as receitas. Isto vem sendo demonstrado especialmente no trato da MP que instituiu o Programa Especial de Regularização Tributária, o Novo Refis, mas também na da MP de reoneração da folha de pagamento. Essa medida é vista como uma forma de aumento de impostos para empresas que vêm atravessando um logo período de dificuldades financeiras.
A decisão do governo de elevar o contingenciamento orçamentário em R$ 5,9 bilhões contraria avaliação do ministro Henrique Meirelles, para quem o corte de recursos já estava acima do limite, considerando o contingenciamento anterior de R$ 38 bilhões. Mais impostos e menos recursos fazem uma combinação difícil de engolir, pelos danos à atividade econômica.
Defensores, críticos e cia
O discurso dominante na área econômica, segundo o qual não haveria outra saída para equilibrar as contas, encontra defensores entre os formadores de opinião no meio político. O desdobramento desta avaliação acolhe o argumento de que pior seria não cumprir a meta de déficit primário, fixada em R$ 139 bilhões, ou ter que propor ao Congresso a elevação desse resultado negativo.
Para a oposição, o trabalho é facilitado. Certa ou errada na fundamentação, a crítica chega ao aumento de impostos e isso é justificável, mas não defendido. Em uma faixa intermediária, estão os governistas que defendem mais rigor no controle de gastos nos três poderes, ao lado daqueles que pedem mais estímulos para a economia.
O deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR), que viaja por todo o país apresentando o seu anteprojeto de reforma tributária – ele havia feito 54 apresentações, antes do atual giro pelo Nordeste –, questiona o amento do PIS/Cofins sobre combustíveis com três perguntas:
- Quantos empregos vai gerar?
- Quanto dessa receita adicional de R$ 10,4 bi vai ser repassado para estados e municípios?
- Quanto esse aumento ajuda a melhorar a economia?
Hauly defende soluções para a arrecadação sem tantos efeitos colaterais e cita a autorização para a atualização do valor de patrimônio na declaração do Imposto de Renda. Ele diz que isso não é feito desde 1995 e estima que a correção em 1% resultaria em uma arrecadação de R$ 200 bilhões “sem machucar a sociedade”. O problema, segundo o deputado, é que 49% dessa receita teria que ser destinada a estados e municípios. Com isso, acrescenta, o Governo Central não concorda.
Denúncia é um caso à parte
Não existe relação de causa e efeito entre o anúncio do aumento de PIS/Cofins sobre combustíveis e a votação da solicitação do Supremo Tribunal Federal (STF) para processar o presidente Michel Temer por crime de corrupção passiva, que deve ser votada a partir de 2 de agosto.
A repercussão negativa entre os deputados do aumento de impostos anunciado remete à votação da denúncia, o primeiro grande evento previsto para a retomada das atividades legislativas após o recesso parlamentar. Essa associação entre a votação da denúncia e o aumento da tributação sobre combustíveis pode fazer sentido para a oposição e para dissidentes da base, que querem ver Temer pelas costas, mas não representa um elemento capaz de reverter a expectativa de rejeição da Solicitação para Instauração do Processo (SIP 1/2017).