Previdência ressurge no pós-denúncia
Depois de afastar o fantasma da denúncia do procurador-geral da República contra o presidente Michel Temer, o governo volta a pensar em Reforma da Previdência. A agenda vai ter que ser construída em parceria com as lideranças políticas da Câmara e pautar-se pela busca do mais amplo apoio entre os partidos identificados com a chefia do Executivo.
Embora denúncia por crime comum e reforma constitucional não guardem vínculos, os 263 votos contrários à autorização para que Temer fosse processado pelo Supremo Tribunal Federal são a mais atual referência do apoio ao governo na Câmara. A aprovação da reforma exige 308 votos e, por segurança, o apoio de 330 a 340 deputados.
O debate foi aberto pelo próprio presidente, logo após o encerramento da sessão que negou autorização à solicitação do STF para instauração de processo, em breve pronunciamento a propósito da decisão da Câmara.
A repercussão entre as lideranças políticas da retomada da agenda de reformas, que não se resume à Previdência, é favorável, com exceção de setores da oposição que investem em novas denúncias contra Temer por obstrução de Justiça e organização criminosa, e até sugerem outras, sobre a liberação de emendas parlamentares em volume atípico. “O governo continuará refém da agenda criminal”, garante o deputado Alessandro Molon (Rede-RJ), para quem o Executivo não conta com uma base parlamentar para aprovar projetos que exijam maioria constitucional.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), evita falar sobre a hipótese de uma segunda denúncia de Janot contra Temer, afirmando que trata dos assuntos sobre os quais tem controle. Por isso mesmo, vai cuidar da discussão da pauta com os líderes partidários a partir da próxima semana.
Pauta extensa
O plenário tem cinco medidas provisórias trancando a pauta, entre elas a MP 783, do Novo Refis, com a qual o governo espera arrecadar R$ 13,3 bilhões somente em 2017, e a MP 774, que reduz drasticamente os setores beneficiados pela desoneração da folha de pagamento e que perde validade em 10 de agosto próximo.
Maia tem compromissos com a Reforma Política, que tem dois meses para ser aprovada a tempo de valer para as eleições de 2018, com projetos elencados pela Comissão de Segurança Pública, com a Reforma da Previdência e com a Reforma Tributária defendida pelo deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR).
O governo ainda tem interesse na reforma do PIS e da Confins, que chama de simplificação tributária e que não depende de emenda constitucional. Os textos ainda não foram encaminhados ao Congresso.
Quanto à Reforma da Previdência, o presidente da Câmara fala na construção de um texto. Esta é a tendência da Casa, onde deve prevalecer a ideia de reduzir a reforma à instituição da idade mínima para a aposentadoria no Regime Geral. Foi como tudo começou.
Por que a reforma parou
A Reforma da Previdência, que dominou as atenções do Congresso no início do ano legislativo, teve a aprovação concluída em comissão especial da Câmara, na forma do parecer do relator, deputado Arthur Maia (PPS-BA), em 9 de maio. O trajeto até o plenário foi retardado pelas lideranças governistas, para que fosse assegurado o apoio necessário, e suspenso logo em seguida, com a revelação de que o presidente Michel Temer foi alvo da delação premiada de Joesley Batista.
A retomada das negociações, defendida pelo presidente Michel Temer e pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, se dá com a reforma tecnicamente pronta para ser apreciada pelo plenário, em dois turnos de votação. Mesmo a construção de um texto alternativo ao parecer aprovado na comissão especial (uma emenda substitutiva), como sugere Rodrigo Maia, não implicaria o retorno da proposta àquele colegiado. As emendas de plenário são admitidas pelo Regimento Interno da Câmara.
Politicamente, o apoio à Reforma da Previdência é, hoje, menor do que em 17 de maio, quando estourou a denúncia contra o presidente Temer. Esta é a análise que faz o presidente da Câmara, com a qual concordamos plenamente.
Do ponto de vista fiscal, quando o governo se vê diante da necessidade de combinar aumento de impostos com elevação da meta de déficit primário, a exigência da reforma torna-se ainda mais evidente, o que pode facilitar o trabalho de convencimento dos parlamentares e devolver ao ministro Henrique Meirelles as credenciais de principal negociador da matéria.