FHC volta a surpreender
A carta de Fernando Henrique, em que o ex-presidente faz reflexões sobre a antecipação de eleições gerais diante da gravidade da situação política, surpreende, por ter sido divulgada poucos dias depois de o seu partido, o PSDB, ter decidido continuar integrando o governo, ainda que a indicação (não houve tomada de votos na reunião ampliada da Executiva Nacional) tenha sido condicionada ao surgimento de fatos novos.
Fernando Henrique faz reflexões sobre a gravidade do cenário político, aponta a falta de legitimidade para Michel Temer governar e pede que o presidente da República, em um “gesto de grandeza”, peça a antecipação de eleições gerais. Presidente de honra do PSDB, Fernando Henrique esclarece que o cenário político o fez mudar de opinião, uma vez que havia considerado “um golpe” a convocação de eleições antes do término do mandato do presidente, em 2018.
A carta do ex-presidente mostra a sua percepção sobre a perda de objetivos do governo, cuja cúpula está voltada para a denúncia ou as denúncias que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, vai apresentar ao Supremo Tribunal Federal contra Temer. O presidente deve ser denunciado por corrupção passiva, obstrução de Justiça e outros crimes que podem ser incluídos, de acordo com o resultado das investigações, que estão a cargo da Polícia Federal e do Ministério Público. O Palácio do Planalto está mobilizado para que a Câmara negue autorização ao Supremo Tribunal Federal para processar Michel Temer, com base na denúncia que for apresentada à Corte Suprema.
Fernando Henrique lança mais dúvidas na cabeça dos tucanos, que estão divididos em relação à participação no governo, fortalecendo os argumentos da ala favorável ao rompimento. O “gesto de grandeza” que pede a Temer – a antecipação de eleições gerais – parece um sofisma. Se é que pode haver algum, gesto de grandeza seria o da renúncia ao mandato, como foi cogitado logo após o dia 17 de maio, quando houve a revelação da gravação que Joesley Batista fez de um diálogo com Temer, ocorrido em condições atípicas para o chefe do Executivo.
Para realizar eleições gerais seria necessário aprovar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), que implicaria a redução do mandato dos deputados, senadores e governadores. No caso dos parlamentares, a quem cabe votar a medida em dois turnos, com o apoio de 60% do efetivo da Câmara e do Senado, a medida ainda seria extensiva aos suplentes. Essa questão da antecipação das eleições paralisaria o país. No entanto, a diferença entre o pleito em outubro de 2018, como determina o calendário eleitoral, e o pleito antecipado é somente de alguns meses.
A nota de FHC aumenta o constrangimento, se não de Temer, pelo menos dos partidos que dão apoio ao presidente.